terça-feira, 17 de maio de 2011

Como surgiu a Língua Portuguesa  ?
O português, assim como o castelhano, o francês, o italiano, o provençal, o catalão, o rético, o sardo, o dalmático, o franco-provençal, o gascão e o romeno são o resultado de uma lenta transformação, ao longo dos séculos, de um outro idioma, o latim, que era falado no Lácio, região da Península Itálica, onde ficava a antiga cidade de Roma. Todas essas línguas nasceram do chamado latim vulgar (sermo plebeius), uma das três variedades da língua romana.

Falado por pastores, camponeses, comerciantes e soldados, o latim vulgar caracterizava-se por ser um dialeto simples, grosseiro, sem a elegância e a pureza vocabular do latim clássico (
sermo urbanus).

À medida que o Império Romano estendia o seu domínio sobre outras regiões, o latim vulgar sofria a influência das línguas dos povos conquistados. Assim, aos poucos, o
sermo plebeius foi se modificando, e, com a invasão dos povos bárbaros e a queda do último imperador romano, Rômulo Augústulo, o latim fragmentou-se, dando origem às chamadas línguas neolatinas ou românicas, sendo a Língua Portuguesa uma delas.

O primeiro documento literário escrito no idioma português surgiu a partir do século XII, quando havia o predomínio da língua falada. A seguir, observe um trecho do capítulo primeiro do livro de Gênesis, extraído de um manuscrito pertencente ao Mosteiro de Alcobaça, do século XIV. Note-se que muitos termos e construções sofreram profundas transformações ou nem sequer existem no português moderno:

“Eno começo criou Deus o ceeo, e a terra, convem a saber, o ceeo empireo, e os angos, e a materia de todolos corpos, e os quatro elementos, convem a saber, o fogo, e o aar, e a augua, e a terra, e este mundo, que parece, que he feito deles.
Mas a terra era vãa e vazia, quer dizer, que a feitura do mundo era sem proveito, e sem fruito, e desapostada.
E as treevas eram sobre a face do avisso, que hé a terra, e a feitura do mundo, que era profunda, e escura, e confunduda.
E o Spirito do Senhor andava sobre as auguas, quer dizer, que a voontade de Deus andava sobela materia do mundo, assi como a voontade do meestre, que tem ante si a materia, de que quer fazer a casa.
E disse Deus, seja feita a luz, e logo foi feita a luz, e vio Deus a luz que era boa, e departiu a luz, e as treevas, e pos nome aa luz dia, e aas treevas noite, e foi feito vespera e manhãa huu dia”.

Fonte:
Megale, Heitor. O Pentateuco da Bíblia Medieval Portuguesa. EDUC e Imago Editora. São Paulo, 1992).

É isso!

segunda-feira, 16 de maio de 2011

Ensinar é um gesto de amor

Ensinar é uma arte. Nisso tanto educadores quanto educandos concordam. O sucesso ou o fracasso de uma escola depende em grande parte dos professores e da sua arte. Mas onde estaria o segredo dessa arte? Estaria nos livros de didática, pedagogia ou psicologia? Estaria nos diplomas, certificados e especializações? Conheço professores que, sem muita formação ou recursos, realizam seu trabalho de maneira brilhante. Não que o conhecimento e os recursos didáticos não sejam importantes, mas certamente não está aí o segredo. Há pessoas que, com pouco fazem muito. Por maiores que sejam os avanços tecnológicos, nada substitui um bom professor.
Afinal, de que é feito um bom professor? Como todo artista, é feito antes de tudo de paixão, de entrega, de gostar pelo que faz. Ensinar é um gesto de amor ao próximo. Procure se lembrar de um bom professor que você já teve. Certamente, você irá identificar nele essa paixão, o gostar do trabalho, o acreditar no outro. São pessoas que nos marcaram e que iremos guardar na memória para sempre.
O papel do professor não é de fornecer respostas prontas, mas estimular seus alunos a pensarem e desenvolverem o conhecimento por meio da dúvida e da curiosidade. Desempenha, muitas vezes, papeis que vão além da sala de aula, sendo, em alguns momentos, amigo, confidente, quase pais e mães.Eles são capazes de ficar noites e finais de semana. Abrem mão, às vezes, do convívio dos filhos e cônjuges, para preparar, mais do que aulas, lições de amor e doação ao outro. Admiramos muitos escritores, músicos, artistas, mas esquecemos de que, se não fosse pela dedicação, pelo apoio e encorajamento de muitos professores, hoje não estaríamos contemplando esses frutos.
O papel do professor se assemelha ao poder do fogo que transforma o milho duro em pipoca macia. Sem o poder do fogo, o milho de pipoca continuará sendo milho de pipoca para sempre. Sem o incentivo do professor, muitos talentos se resumiriam em promessas.
Artista que é, o professor parece estar na contramão, remando contra a maré. Sem o reconhecimento merecido, ás vezes o guerreiro pensa em desistir, mas basta um sorriso, um abraço de quem realmente o conhece e sabe o seu valor para retomar as forças e continuar a jornada.
Talvez aí esteja o segredo: são mais que professores são mestres da vida.

Joyldson Gouvêa ( Psicólogo e palestrante)



Artigo publicado no Jornal Estado de Minas, Caderno D+, 04.05.2004.